quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Dojão americano
















Dodge Challenger: um ícone americano

Esportivo de 1971 vem com motor 7.2 V8 de 390 cavalos brutos

Renato Bellote// Fotos: Fabio Aro

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Eis um raro exemplar do Dodge Challeger que roda e perfeito estado no Brasil, principalmente com acessórios originais de fábrica

Homem e máquina. Talvez uma das combinações mais interessantes que já existiram. Desde a criação do primeiro automóvel essa relação tem transformado meninos em homens e criado histórias nos quatro cantos do mundo. Desafios, apostas e muita paixão foram os ingredientes que fizeram dessa sincronia algo perfeito. O ritual é quase sagrado. A minha mão tremia um pouco naquela manhã. Talvez fosse a emoção de estar frente a frente com um monstro de seu tempo. Silêncio total. Um trechinho de alguma velha canção do Creedence passou pela minha mente com a velocidade de um trovão. Virei a chave. O som intenso dos oito cilindros aguçou meus sentidos. O big block estava acordado, sedento por engolir quilômetros de asfalto e litros de combustível.

Estou falando do Dodge Challenger R/T de 1971. O cartão de visitas, além do ronco, está debaixo do capô. Mas para que o leitor se recupere um pouco, vamos conhecer de perto a máquina que fez história e muita gente suspirar em um período de gasolina barata, sonhos ilimitados e todos os lugares para ir. Vamos mergulhar no passado e entender o motivo que fez os muscle cars se tornarem mitos sobre rodas.

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Aerofólio traseiro, quatro saídas de escapamento e pneus largos não são meros enfeites. Esse Dodge acelera forte.

A história toda começou em meados da década de 60. Nessa época o rock and roll mudava de estilo, os cabelos cresciam e Hollywood passava a influenciar a juventude com filmes mais dramáticos e realistas. A Guerra do Vietnã parecia um destino insólito e enterrava todos os sonhos em uma selva densa e cheia de lama. Era preciso algo diferente. A vida se tornara relativamente curta.

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Entrada de ar vibra nas acelerações

A saga desses bólidos começou no escritório da Pontiac. Os executivos da empresa queriam aumentar as vendas com um carro que fosse rápido, potente, barato e, se possível, ostentasse uma sigla agressiva na carroceria. Simples, não é mesmo? Mas não era bem assim. Por sorte um nome foi lembrado no meio da reunião: John De Lorean.

O engenheiro logo colocou a idéia descrita no parágrafo acima em prática. E criou um segmento de sucesso, tanto que até hoje é lembrado por admiradores de todas as idades. O primeiro GTO, com 348 cavalos brutos e muitas possibilidades de acabamento, saiu da linha de montagem para se tornar um ícone da empresa.

Até o final da década, a concorrência já havia tratado de encher as ruas com dezenas de opções. O público se dividia entre estilo e potência, muita potência. Esse era o denominador comum, juntamente com a força bruta. Todos prontos para queimar o asfalto em longos burnouts ou disputar a atenção das garotas na esquina. Cá entre nós, algumas coisas não mudam nunca. Pois bem. Chegamos a este ponto para apresentar a estrela da matéria. A resposta da Mopar veio em 1970 com o lançamento do Challenger. As revistas especializadas se desmancharam em elogios. O comprador podia escolher entre nada menos do que oito opções de motorização e dezoito cores do catálogo!

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O enorme motor V8 7.2 de 390 cavalos brutos sob o capô "shaker", aquele que sacode para segurar tanta força

O estilo chamativo e musculoso da carroceria E-body – apelidada de coke bottle – logo transformou o “desafiador” em um sucesso de vendas. Só no primeiro ano de vida quase 80 mil deles saíram da linha de montagem para a garagem – na maior parte das vezes – de jovens compradores. E custavam muito barato. Resultado: potência, juventude e baixo custo geraram uma combinação explosiva. Voltando aos motores, havia a possibilidade de escolher desde o fraco seis cilindros – de apenas 225 pol³ – até os estratosféricos blocos de sete litros com 426 pol³ (Hemi) e 440 pol³. A diferença de preço era de apenas algumas centenas de dólares. Desse modo sobrava dinheiro para alguns acessórios. E estes formavam outra lista igualmente extensa.

O opcional mais desejado, porém, é o que chama mais atenção no clássico. O modelo das fotos é equipado com um belíssimo V8, de 440 pol³ e o chamativo “shaker hood”. Debaixo dele está o “Six Pack”, que nada mais é do que um pacote de fábrica formado por três carburadores duplos. Sim, você leu certo. A potência é de 390 cv brutos e o shaker treme sobre o capô nas aceleradas mais eufóricas.

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O interior de um legítimo "muscle car": simples, mas elegante.

O interior da máquina traz outro diferencial interessantíssimo: a alavanca de câmbio Hurst. Com a caixa de quatro marchas e uma boa reta garanto que era possível despachar uma boa parte dos curiosos – ou corajosos – que emparelhavam com ele no semáforo. O quarto de milha – uma medida que os norte-americanos tomam como referência – era coberto em pouco mais de 13 segundos na época.

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Pneus radiais e rodas de liga-leve com desenho clássico

Nos anos seguintes, até 1974, o modelo perdeu seu brilho. Mudanças estéticas e a crise do petróleo venceram os beberrões e os condenaram aos museus ou garagens, onde foram esquecidos por muito tempo. Aliás, uma dica para quem gosta de muscle cars em geral é o museu Floyd Garrett, localizado no Tennessee (EUA), que tem atraído milhares de visitantes desde sua inauguração em 1996. O Challenger retornou ao mercado no ano passado e promete reviver a briga com Mustang e Camaro. Felizmente o mundo dá voltas e os modelos clássicos também estão sendo redescobertos e voltando ao centro das atenções. Agora novas gerações de garotos podem conhecer sua fantástica trajetória. E como seus pais e avós, voltar a sonhar.

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Espelho retrovisor de formato cônico, largas faixas laterais e entradas de ar: não resta dúvida de que o carro é um legítimo esportivo

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